Começamos o mês de setembro com o pé direito nas novidades, estreia hoje a primeira edição do blog, a o coração na boca. Ocasionalmente, teremos dicas literárias para os leitores conhecerem melhor os escritores que estão produzindo no Espirito Santo. E quem vem assinar esse título especial é a Lívia Corbellari, uma jornalista cultural que já tem uma história super legal em outros veículos e projetos aqui no Estado, acessem Livros por Lívia para conferir! O nome da coluna é uma homenagem da Lívia a um escritor muito querido por ela, o Sérgio Blank, que inclusive está nesta primeira edição da participação. O cOraçãO na bOca é nome de um poema homônimo
de Blank, que se encontra no livro A Tabela Periódica. Boa leitura!
Opala Negra
A princípio Bento parece ser o protagonista da história de
pistolagem e garimpo do livro Opala Negra
(2013 / Pedregulho), de Marília Carreiro. Mas o moço de origem humilde, que
herda a fazenda do pai distante, é apenas um narrador. Bento é cauteloso, dócil
e se deixa levar pelo destino. Ele se limita a narrar, com traços de
onisciência, a vida do pistoleiro Justino e de todos aqueles que o cercam.
Já no começo do livro vem um alerta ao leitor: nem tudo é
ficção em Opala Negra. O livro é inspirado em causos recorrentes no noroeste do
Espírito Santo e parte de Minas Gerais por volta de 1960. Na trama, Bento tinha
sonhos que eram ‘confirmados’ por boatos de que naquelas terras havia uma
grande pedra preciosa, “que causaria discórdia entre muitos e ganância em quem
soubesse de seu achamento.” (p. 18).
Com a linguagem próxima a fala das gentes do interior, a escritora
vai contando sua história com malemolência. A narrativa chega a dar pistas de
que uma grande tragédia irá acontecer e lhe deixa ansioso por uma reviravolta
do começo ao fim.
Com o belíssimo trabalho de Thiago Manauara, o livro Opala
Negra ganhará uma versão ilustrada ainda este ano. Além da diagramação, que é
um projeto novo, com tipografia desenhada à mão, inspirada em um lettering
capixaba de 1920 da revista Vida Capichaba e inserção de ilustrações durante o
livro.
Leia uma prévia do livro online -> 1° capítulo
Os Dias Impares
Sérgio Blank e seus versos sonoros e irônicos influenciaram
toda uma geração de escritores do Espírito Santo, nas décadas de 80 e 90. Com a
sua bibliografia fora de circulação e sem material inédito publicado desde
1996, Blank resolveu ressuscitar seus poemas. Em parceria com a Editora Cousa,
ele reuniu todos eles em uma só obra: Os
Dias Ímpares (Cousa/2011). A coletânea inclui os livros Estilo de ser
assim, tampouco (1984), Pus (1987), Um, (1988), A Tabela Periódica (1993),
Vírgula (1996) e dois poemas avulsos: "A torto e a direito" e
"aos que mordem sem latir".
Como prova da sua importância, seus versos já foram tema de
uma dissertação de mestrado apresentada na Ufes por Sinval Paulino, que se
transformou no livro Sol, solidão: análise da obra de Sérgio Blank, publicado
em 2007.
Procurei resenhar - sem sucesso - toda a obra de Blank, mas
não consigo traduzir a sensibilidade de seus poemas. Deixo então que o poeta
fale por si: “Escrevo por uma necessidade de mostrar quem eu sou, o que eu
sinto, minhas dúvidas”. Blank também conta que seu processo de criação envolve
um olhar ao redor com mais gentileza e criticidade. Além disso, não é só
escrever e sim “burilar o texto” até que ele ganhe a forma desejada. “Minha
proposta é incentivar esse olhar mais carinhoso das pessoas para ver se o mundo
melhora um pouquinho”, diz ele com sua voz suave.

Jornalista cultural no Século Diário e arrisca-se na crítica
literária no blog www.livrosporlivia.com
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